YogArte – Dahane Garrido
Autor: Danahe Garrido
O meu nome é Danahe Garrido, sou Professora de Yoga, bailarina e coreógrafa. Vivo em Vila Nova de Gaia, onde facilito práticas regulares e criei o projeto YogArte, um espaço onde o Yoga se encontra com a arte, a música ao vivo e o silêncio.
O meu interesse pelo Yoga surgiu a partir do corpo. Foi através da escuta física que me aproximei da prática de forma mais profunda. Com o tempo, percebi que o Yoga me oferecia não só consciência corporal e presença, mas também leveza, transformação interior e uma nova forma de estar no mundo!
Comecei a praticar Yoga nos Estados Unidos, numa fase da vida em que o corpo ainda era o meu principal canal de expressão. Algo se abriu dentro de mim com aquela prática, uma sensação de que havia mais do que alongamentos, mais do que forma. Inscrevi-me na Formação de Professores de Yoga da BeYoga não com o desejo de ensinar, mas com a vontade profunda de compreender. Queria aprender mais sobre a filosofia do Yoga, sobre o porquê das posturas, sobre a ligação entre os gestos, o respirar e o que sentimos. Queria perceber como é que o Yoga podia transformar não só o corpo, mas também a mente.
Nunca me passou pela cabeça dar aulas de Yoga, mas foi ao preparar o meu trabalho final que tudo se revelou com clareza. Percebi, de forma quase luminosa, que a minha missão era esta: promover a saúde física e o bem-estar emocional através da prática de Yoga, da arte e da presença.
A formação foi exigente, estruturada e profundamente transformadora. Aprendi a olhar para o Yoga com clareza, respeito e compromisso. Senti uma identificação muito especial com a Professora Carla Gonçalves, que me inspirou profundamente pela sua presença serena, pelo rigor com que transmite o conhecimento e por partilharmos ambas raízes na ginástica rítmica. Essa afinidade silenciosa, de disciplina, deu-me confiança ao longo do percurso. Lembro-me com carinho de práticas em que as palavras dela ressoavam dentro de mim como lembretes suaves de algo que já existia, mas ainda precisava de ser acordado. Foram momentos simples, mas marcantes, que me ajudaram a confiar mais em mim como futura professora.
Se houve algo que tornou esta formação verdadeiramente especial, foi o grupo. Encontrei ali mulheres e homens que vibravam numa frequência semelhante à minha, com entrega e desejo de aprender com verdade. Havia um respeito profundo pelos tempos de cada um, uma escuta silenciosa nos intervalos, um abraço sincero quando era preciso. Essa rede de apoio foi fundamental para que eu pudesse crescer com confiança. Cada partilha em círculo, cada olhar cúmplice durante uma prática, mostrou-me que não estava sozinha no caminho. Foi na BeYoga que a palavra entrega ganhou um um novo significado e é hoje um pilar daquilo que crio e partilho no YogArte.
O YogArte nasceu da vontade de unir tudo o que me habita: a dança, a sensibilidade, a música, o silêncio e o Yoga. Mais do que um espaço físico, é uma atmosfera que acolhe práticas conscientes, eventos com música ao vivo, retiros e experiências sensoriais. Hoje facilito práticas regulares e eventos que combinam a prática de yoga com música ao vivo, com instrumentos como piano, violino, guitarra, saxofone, percussão, entre outros. Cada instrumento traz uma vibração única e transforma o espaço em algo sensível, quase sagrado. A música sustenta, embala, desperta emoções e amplia a respiração. A música, aliada à escuta do corpo, tornou essa experiência ainda mais profunda. Organizo também retiros espirituais, normalmente em locais rodeados de natureza, onde o silêncio e a simplicidade nos devolvem ao essencial. Os dias são preenchidos com práticas de Yoga, meditação guiada, caminhadas conscientes, partilhas em círculo e rituais de reconexão.
Num dos retiros mais marcantes, encerrámos a prática com violino ao vivo ao pôr do sol. Houve lágrimas, abraços e uma paz difícil de descrever. Estes momentos revelam o verdadeiro poder do Yoga quando vivido com alma.
Quando procurava o local para criar o YogArte, tinha no coração um desejo claro, embora difícil de traduzir: queria um sítio longe de tudo e perto ao mesmo tempo. Um lugar onde o silêncio não fosse solidão, mas presença. Onde a arte estivesse nas paredes, mas sobretudo no gesto, na luz, na forma como se respira. Não queria um convento nem uma galeria. Queria um espaço real, com alma, onde a prática fosse oferecida tal como é: crua, honesta, profunda, mas envolta em elegância, em fluidez, em amor. Um lugar onde, ao inspirar, as pessoas se lembrassem da beleza do movimento. E ao expirar, se sentissem em casa dentro de si. Nessa altura, uma frase que ouvi durante toda a infância fez-se luz dentro de mim: mi casa es tu casa. Queria que quem chegasse se sentisse acolhido, como num lar interior. Por isso, optei por disponibilizar aquele que em tempos foi o meu espaço de vida para dar corpo ao projeto. Transformei uma casa em templo de criação e saí para que outros pudessem entrar.
No YogArte, recebo pessoas de diferentes idades e experiências, que procuram mais do que exercício físico, procuram reconexão. Lembro-me de uma aluna que chegou pela primeira vez com o corpo fechado, o olhar tenso, e uma energia muito contida. Depois de algumas práticas, começou a abrir o peito, a sorrir mais, a respirar fundo. Um dia, disse-me: “Sinto que posso finalmente habitar o meu corpo com paz.”
No processo de criar o YogArte, enfrentei medos, dúvidas e muitas incertezas. Era um sonho meu, mas não tinha garantias. Ainda hoje, cada evento é preparado com um cuidado quase artesanal, desde a escolha da música, à iluminação, ao aroma, à disposição dos tapetes. Tudo contribui para o ambiente que quero oferecer. Como Professora, gosto de preparar as práticas com uma intenção clara, mas deixar espaço para que a energia do grupo traga o que precisa de vir. Por vezes, mudo tudo no momento, porque sinto que ali, naquele dia, é outra coisa que está a ser pedida.
Ao longo desta jornada, fui também reencontrando-me como mulher, artista e guia. O Yoga elevou profundamente a minha espiritualidade. Através do estudo da filosofia do Yoga, mergulhei num oceano de sabedoria que me ensinou a honrar todas as formas de fé. Aprendi a ver beleza em todos os caminhos: em Cristo, em Shiva, em Buda, em Iemanjá. Hoje, não me movo por uma religião única, mas por um amor amplo que acolhe todas as manifestações do sagrado. Este mergulho espiritual não só me fortaleceu enquanto praticante, como também me transformou. A escuta tornou-se mais fina, a intuição mais presente, a palavra mais precisa. Aprendi a confiar no silêncio, a respeitar os ciclos e a ensinar com mais verdade. Sinto uma profunda gratidão ao olhar para o caminho que percorri até aqui. A Professora Carla Gonçalves plantou em mim sementes importantes: sementes de rigor, de entrega e de verdade. É com alegria que hoje vejo essas sementes a dar fruto, de forma simples e bonita, nas práticas, nos retiros e nos momentos de silêncio que partilho com quem chega.
Partilhar o Yoga é, para mim, uma forma de arte. Se pudesse deixar umas palavras a quem agora começa, seriam estas: entreguem-se e confiem no processo.
Namasté,
Danahe Garrido